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Obesidade

Obesidade e Depressão: um ciclo vicioso que exige abordagem integrada

A relação entre obesidade e depressão é um tema que vai muito além do senso comum, que frequentemente simplifica o quadro como se fosse uma questão meramente de causa e efeito: a pessoa engorda porque está triste ou fica deprimida por estar acima do peso. No entanto, a conexão entre cérebro e estômago é muito mais complexa e envolve uma série de fatores biológicos, psicológicos e sociais, que exigem uma abordagem multidisciplinar.

Nosso corpo, por exemplo, tem um sistema de “comunicação” constante entre o tecido adiposo e o cérebro. É nas células adiposas que é produzida a leptina, um hormônio fundamental para regular a saciedade. Em uma situação normal, a leptina informa ao cérebro que estamos satisfeitos e não precisamos comer mais. Contudo, o consumo excessivo de alimentos ricos em gordura e açúcar leva a um processo inflamatório, tanto nas células do corpo quanto no cérebro. Isso pode resultar em uma resistência à leptina, onde o cérebro deixa de interpretar corretamente o sinal de saciedade, levando a um ciclo de fome constante e ganho de peso.

Os dados são alarmantes: cerca de um terço da população brasileira estava obesa em 2023. Ao mesmo tempo, o Brasil apresenta uma prevalência de depressão ao longo da vida de 15,5%. A ciência já demonstrou que a inflamação crônica, comum em pessoas obesas, está diretamente ligada ao aumento de sintomas depressivos. Esse estado inflamatório contínuo no corpo envia sinais ao cérebro que se traduzem em cansaço, letargia e falta de motivação—sintomas que são característicos da depressão.

Estudos também mostram que, em muitos casos, a obesidade pode ser um fator precursor da depressão. Por outro lado, a depressão pode levar ao ganho de peso e à obesidade, criando um ciclo vicioso. As alterações hormonais, como a diminuição da leptina (hormônio que gera saciedade) e o aumento da grelina (hormônio que estimula o apetite), são influenciadas por padrões de sono alterados, frequentemente encontrados em pacientes depressivos. Isso significa que, além de comer mais e gastar menos energia, esses indivíduos também enfrentam uma batalha constante contra a fome.

Assim, a obesidade e a depressão formam uma via de mão dupla, onde cada condição pode agravar a outra. Entender e abordar essas doenças de forma integrada é fundamental para oferecer aos pacientes um tratamento que realmente faça a diferença em suas vidas. Como cirurgião bariátrico, vejo diariamente a importância de tratar essas condições de forma integral, considerando não apenas os aspectos físicos, mas também os emocionais e comportamentais dos pacientes.

Dr. Admar Concon Filho

Diretor técnico Clínica Concon
CRM 53577
RQE 43019 | 93656

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