Estudo realizado pela Fiocruz Brasília projeta números de pessoas obesas ou com sobrepeso
Em duas décadas, três quartos da população brasileira devem ter obesidade ou sobrepeso. A projeção faz parte de um estudo realizado pela FioCruz Brasília, conduzido pelo pesquisador Eduardo Nilson, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin). Nesse cenário, quase metade dos adultos brasileiros (48%) terá obesidade até 2044, enquanto mais 27% estarão com sobrepeso. A pesquisa também aponta um aumento preocupante na obesidade infanto-juvenil. Em 20 anos, estima-se que 24% das crianças de 5 a 9 anos terão obesidade; 15%, entre as de 10 a 14 anos, e 12%, entre adolescentes de 15 a 19 anos, estarão na mesma situação.
Atualmente, 56% dos adultos brasileiros têm obesidade ou sobrepeso (34% com obesidade e 22% com sobrepeso). Se as tendências atuais se mantiverem, 130 milhões de adultos estarão nessa situação em 2044, sendo 83 milhões com obesidade e 47 milhões com sobrepeso. A pesquisa destaca um crescimento alarmante da obesidade, que quase dobrou entre 2006 e 2019, e estima que, até 2030, a prevalência de sobrepeso e obesidade combinados alcançará 68,1% (29,6% de obesidade e 38,5% de sobrepeso).
“A obesidade é uma doença, uma doença muito séria, que pode causar ou agravar outras doenças, algumas fatais. Estamos vivendo uma pandemia da obesidade e precisamos ter um olhar preventivo para essa situação”, avalia o cirurgião bariátrico Admar Concon Filho. “Já sabemos que mulheres, negros e outras minorias étnicas apresentam maior prevalência de obesidade, assim como a população com menor nível de escolaridade. Precisamos de políticas públicas eficazes, considerando essas variações”, afirma.
A epidemia de obesidade já impõe uma carga epidemiológica e econômica significativa ao Brasil, e os custos relacionados às comorbidades, que são as doenças causadas ou agravadas pela obesidade, devem aumentar. O estudo utilizou um modelo de tabela de vida para estimar os impactos do sobrepeso e da obesidade sobre 11 doenças associadas ao elevado Índice de Massa Corporal (IMC). Estima-se que, até 2044, a prevalência de sobrepeso e obesidade entre adultos brasileiros aumentará de 57% para 75%, resultando em 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas e 1,2 milhão de mortes atribuíveis ao sobrepeso e obesidade.
Entre as doenças mais impactadas, destacam-se as cardiovasculares, com 2,12 milhões de novos casos, e a diabetes, com 5,57 milhões. As mortes atribuíveis incluem 714 mil por doenças cardiovasculares e 195 mil por diabetes. Curiosamente, os homens representam 64% das mortes atribuíveis, apesar de a distribuição de novos casos entre homens e mulheres ser similar, devido à maior propensão dos homens a morrer prematuramente.
Obesidade infantil em crescimento
O estudo também aborda a obesidade infantojuvenil, destacando, como nos adultos, um aumento preocupante nas próximas duas décadas. Meninos e meninas de todas as idades apresentarão taxas crescentes de obesidade, com projeções de 24% entre aquelas de 5 a 9 anos, 15% entre as de 10 a 14 anos e 12% entre adolescentes de 15 a 19 anos, até 2044. Além de Nilson e seus colegas, esta pesquisa foi conduzida por Ana Carolina Rocha de Oliveira, do Instituto Desiderata, do Rio de Janeiro, e alerta para a urgência de intervenções para prevenir e tratar a obesidade em crianças e adolescentes.
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